As Jóias Guardadas

Havia epidemia na cidade e, ao sair de casa pela manhã, notou o pai que
seus filhos estavam tristes e abatidos. Passavam já algumas horas que o
pai deixara a casa para ensinar na escola pública, onde lecionara por tantos
anos. Sua casa, entretanto, durante aquelas horas , hospedara o luto e o
desespero. Em decorrência da epidemia, dois de seus filhos haviam
morrido quase de repente e, de sua família, só a desolada mãe permanecia
contemplando imóvel, aqueles dois corpos amados buscando neles,
em vão, alguns indícios de vida; e vinha-lhe a mente o pobre marido que
dentro em pouco iria defrontar o tremendo espetáculo.
O respeito à vontade Divina e o amor de esposa e mãe deram-na uma
grande força de alma. As maternas mãos estenderam um lençol sobre
aquele leito de morte onde os filhos amados repousavam. Cumprindo o
piedoso mister, a triste mãe passou-se ao quarto vizinho à espera do marido.
A noite descera lentamente. Chegou a casa o pai e, tão logo, indagou de
sua esposa um tanto preocupado:
- E os meninos ?
- Antes, deixe me pedir te um conselho - respondeu a mulher.
- Ontem um amigo nosso me procurou e deixou sob minha guarda algumas
jóias. Vem ele agora reclamá-las. Não contava que viesse tão cedo.
Devo
restituí-las ?
- Mas claro querida ! Tens dúvida sobre isso ?
- Mas já me apegara tanto àquelas jóias !
- Não te pertenciam.
- Mas eu as queria-lhes tanto bem... Talvez tu também...
- Querida ! - Exclamou atônito o marido que começava a pensar com
temor em alguma coisa estranha e terrível. - Que dúvidas ! Que
pensamentos ! Basta devolvê-las !
- É isso mesmo - Balbuciava, chorosa, a mulher. - Muito preciso do seu
auxílio para fazer essa dolorosa devolução. Vem ver as jóias guardadas.
E as suas mãos geladas, tomaram as do atônito pai e conduziram-no ao
quarto e ergueram as franjas do lençol fúnebre.
- Aqui estão as jóias. Reclamou-as Deus !
Diante daquela visão o pobre pai caiu em grandíssimo pranto e exclamou
golpeado pela dor:
- Ó filhos meus, filhos de minha alma, doçura da minha vida, luz dos meus
olhos , ó meus filhos !
- Querido, não disseste há pouco, que é necessário restituir as jóias
quando a reclama o dono legítimo ?
Com os olhos cheios de lágrimas, o homem fitou a esposa cheio de
admiração e doçura, e disse:
- Ó Deus meu - Suspirou - Posso eu fazer alguma queixa contra Tua
vontade ? Resta-me agradecer por tão preciosas jóias que me destes para
cuidar e amar.
E os dois consolados, então, prostaram-se a um só tempo e, por entre
lágrimas, repetiram as santas palavras de Jó:

- "Deus Deu, Deus Tirou. Bendito Seja o Seu Santo Nome !"

Espero que essa história possa servir de conforto e refrigério no momento
de perda e desconsolo. Sabendo que as jóias preciosas tem lugar
guardados em nossas lembranças e corações e que, um dia, chegará que
nem a morte poderá nos separar e, na eternidade, Jesus Cristo será o
vínculo perfeito entre todos os amados e não haverá mais pranto e nem
choro. Permita que o Senhor seja seu consolo e refrigério bem presente.
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