O Mandarim

Conta-se que havia na China um mandarim amante dos objetos de arte.
Vivia ali também uma velha mãe, viúva, com as filhas: Mitiko e Sing. Como elas lutavam, enfrentando a pobreza em que o pai as deixara, Mitiko desejou trabalhar no palácio do mandarim, em um cargo muitíssimo arriscado. Era o de limpar os milhares de vasos de cristal e porcelana que compunham a majestosa coleção do imperador. Sabia que se um deles se partisse, ai da sua cabecinha: seria decapitada sem apelação pelo carrasco, que era a própria sombra do soberano. Assim mesmo Mitiko se arriscou e foi.

A partir daí, as coisas mudaram em sua casa. Havia fartura. Ela e a irmã começaram a estudar a noite. Tudo ia muito bem, até que num triste dia Mitiko chegou em casa chorando copiosamente. Quebrara um vaso dos mais raros. No dia seguinte, como sempre, o fiscal faria o balanço dos objetos numerados e o seu crime seria descoberto. Sing estava pálida e muda de pavor. Não dormiu, mas elaborou um plano igualmente arriscado. 
Saiu muito cedo e foi ao palácio. Lá, na sala das porcelanas, começou a recordar todos os que perderam a vida por causa desses malditos objetos.
Cheia de indignação, foi atirando contra o solo tudo, reduzindo-os em
cacos. Parecia desvairada... Assustados com o estranho barulho, acudiram
os criados. Sabendo do fato, o mandarim ordenou que Sing fosse
amarrada e levada a sala das audiências, onde só a tarde deu ordens ao carrasco para que trouxesse a menina. Sentado em seu trono de veludo, disse-lhe ele:

- Certamente já sabe qual a sorte que lhe espera, insolente menina.

- Sim, sei; e aqui estou a disposição do carrasco. Se cada objeto da sua
coleção representa a vida de alguém, eu dou graças a Deus por haver
destruído vários deles e com isso salvar da morte mais de setenta pessoas!

O mandarim quedou-se pensativo e confuso. Essa garota o desafiava com singular coragem. Ela não temia a morte! Impressionado, sobretudo, pelo seu tão pronunciado amor ao próximo, o mandarim falou-lhe decidido:

- Saiba que a senhorita não morrerá! Seu gesto de bravura tocou meu
coração. De hoje para a frente agirei de outra forma. Pode se retirar
tranqüila.

Sing respirou aliviada. Finalmente, havia conseguido mudar o rumo das coisas. Já em casa, as três agradeciam a Deus por haver orientado tão bem a menina naquele seu plano ousado, permitindo que tudo acabasse bem.
Durante anos Mitiko foi a dedicada guardadora da coleção do mandarim, sem precisar sentir aquele pavor, como se uma espada a ameaçasse sempre...
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